Opinião
- Edição 583 -
Jornal NippoBrasil
O que se passa na economia global
Teruo Monobe*
Os
movimentos nas bolsas mundiais neste início de ano parecem refletir
a recuperação de algumas economias, o que já havia
sido constatado no ano passado. Obviamente, quando se fala em recuperação,
não se trata das economias emergentes, mas sim dos atores mais
castigados pela crise iniciada em 2007, como os países da Zona
do Euro e os Estados Unidos. Nas nações emergentes não
houve recessão: ao contrário, houve notável crescimento,
o que refletiu na alta da inflação do ano passado.
A respeito
das economias dos países da Zona do Euro trata-se de repeteco do
ano passado. Quase todas as nações ainda amargam os efeitos
da crise, com exceção da Alemanha. Os problemas continuam
sendo Portugal e Espanha, que voltam ao noticiário. No caso português,
de novo, o Banco Central Europeu (BCE) andou comprando parcela da dívida
para equilibrar a pressão de venda dos investidores. Isso, porém,
não foi suficiente, e os analistas dizem que o país vai
precisar pedir ajuda a outros países europeus a curtíssimo
prazo.
No caso da
Espanha, os títulos estão caindo devido ao receio de dificuldades
de financiamento para o pacote de resgate feito pelo BCE. Agora, junta-se
a Bélgica, cuja incerteza política está contaminando
sua economia, o que levou muitos analistas a rotularem o país de
bola da vez. Lá, os partidos têm dificuldade
em formar uma coalizão para governar, além do que a Bélgica
tem uma das maiores relações dívida pública/PIB
da Europa. Impasses políticos são normais na Europa, mas
a Bélgica está sem governo há sete meses!
Um adendo:
na Bélgica, a questão é que, embora pequena, ela
é dividida em duas nações os valões
(da Valônia, de língua francesa) e os flamengos (de Flandres,
de fala holandesa). Existe uma terceira região, que engloba Bruxelas,
a capital do país, com 15% de flamengos. No século 19, a
Valônia era o motor da economia belga, mas hoje são os flamengos.
O que existe é uma divergência ideológica e cultural
entre os dois principais grupos, de modo que uma luta de secessão
toma corpo no parlamento belga.
Excluída,
portanto, a Europa, e propositalmente, a economia japonesa, sobra a recuperação
econômica dos Estados Unidos. Embora não seja grande coisa,
o fato já levou investidores e analistas a elevarem suas expectativas
para o crescimento de médio e longo prazo. No curto prazo, a coisa
é diferente: em novembro, o Banco Central (FED) injetou US$ 600
bilhões para reativar a economia, mas os efeitos ainda não
foram sentidos. Os analistas já falam que pode brevemente ocorrer
uma bolha qualquer. Bolha essa que seria devastadora para a economia.
No momento,
discute-se se uma recuperação acelerada não poderia
levar a uma inflação maior como ocorreu com os países
emergentes em 2010. Dentro dessa perspectiva, o FED teria que aumentar
os juros para conter a bolha. Os países emergentes, que amargaram
índices mais elevados de inflação em 2010, já
estão se antecipando e elevando a taxa de juros. No Brasil, o que
se prevê é que, na próxima reunião do Comitê
de Política Monetária (Copom) do Banco Central, possa ocorrer
nova alta dos juros para conter a inflação.
Ocorre que
nos EUA, as empresas estão com dinheiro, já que aproveitaram
a crise para redesenhar o modelo de negócios, demitindo trabalhadores
e melhorando a produtividade. Por isso, não geraram mais empregos.
Os lucros aumentaram, mas não houve investimentos. As empresas
só estão de olho na demanda, e voltarão a investir
se esta melhorar. Porém, existe também uma percepção
do empresariado de que o governo Obama é socialista demais, ao
promover mais justiça social do que melhorias na economia. São
problemas inusitados.
Como diria
o chato de plantão: e o Brasil com isso? Tem muito a ver, sim.
O excesso de dinheiro especulativo sente-se atraído pelos juros
no Brasil. A crise global, sendo a guerra cambial um dos seus componentes,
pode gerar protecionismo no mundo todo. As empresas industriais multinacionais
relutam em produzir no Brasil devido à valorização
cambial e ao custo Brasil, o que, somado aos problemas das empresas nacionais,
gera a discussão se não estamos às vésperas
de uma desindustrialização.
Assim, a questão
é se o governo tem gordura suficiente para poder queimar neste
início de mandato. A crise mundial, que se torna cada vez pior
porque atinge os EUA e Europa, pode ser a grande e maldita herança
herdada por décadas de decisões populistas e irresponsáveis
de governos de países ricos e desenvolvidos. E, por isso, não
pode ser resolvida de imediato e espirra por todo o mundo. O desafio do
governo brasileiro é não repetir os mesmos erros dos países
ricos, erros que têm sido copiados repetidamente.
*Mestre em Administração Internacional e doutor pela USP
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