Junji
Abe*
Não há consolo para a hecatombe que já matou
12 pessoas, deixou 11 desaparecidas quase um mês depois,
desabrigou centenas de outras, dizimou milhares de animais e vegetais,
condenou recursos naturais e comprometeu a biodiversidade de tal
forma que não há previsão de recuperação
nem para as gerações futuras.
O
rompimento da barragem em Mariana (MG), catalogado como o maior
desastre da indústria de mineração no País,
desencadeou o tsunami de lama que matou o Rio Doce. E, junto,
a fonte de vida de pessoas, animais e vegetais, ligados a ele.
Espalhou-se um volume estimado de 40 bilhões de litros
de lama. O material está contaminado por metais.
Não
vemos os responsáveis pela tragédia Samarco,
mineradora da Vale e da anglo-australiana BHP Biliton adotando
medidas para reverter a contaminação. E nem para
evitar novas ocorrências. Igualmente, não há
punições à altura da gravidade da tragédia.
Em outras nações, acidentes de menor proporção
teriam desencadeado ações saneadoras e prisões
em série.
Aqui
no Brasil, tudo que se sabe é que não se sabe o
que causou a ruptura da barragem do Fundão. Embora caríssimos,
existem tratamentos para minimizar os impactos da contaminação.
Porém, não serão levados adiante por conta
da pasmaceira do poder público frente à tragédia.
Apesar das desgraças, perduram a imprevidência e
a impunidade.
Primeiro,
a fiscalização varia de nula à deficiente.
Segundo, se algo dá errado, o prejuízo financeiro
da empresa é ínfimo, comparado aos danos socioambientais.
Há situações emblemáticas no Alto
Tietê, como a explosão do lixo depositado no aterro
sanitário da Pajoan, em Itaquaquecetuba, ou o rompimento
do duto de combustíveis da Transpetro, na Volta Fria, em
Mogi das Cruzes. Em ambos os casos, o passivo ambiental persiste,
sem que a aplicação de multas tenha forçado
sua eliminação.
Enquanto
o poder público no Brasil continuar cúmplice da
política do descaso com a sociedade, praticada por empresas
que mantêm atividades geradoras de risco socioambiental,
estamos fadados a conviver com ameaças de reprises de tragédias.
Se nada mudar, não tardará para que outras hordas
de lama da morte cubram o território nacional, aumentando
a conta do descalabro para as gerações futuras.
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