Junji
Abe*
Algo
em torno de 2 milhões de aposentados em todo o País
vêm sofrendo descontos mensais em seus contracheques da
Previdência Social. Grande parte deles nem imagina que isto
esteja acontecendo. Outros pensam ser uma contribuição
obrigatória instituída pelo governo. Em geral, tudo
fica como está porque nenhum aposentado recebe cópia
do contracheque, que só pode ser verificada online. Ainda
assim, a informação constante do extrato não
é clara quanto ao motivo do desconto.
O
desconto compulsório pode chegar a 2% do valor do benefício.
O dinheiro retido vai direto para entidades classistas. É
um pote de ouro no fim do arco-íris. São nada menos
que R$ 25 milhões por mês. No ano passado, totalizaram
R$ 300 milhões. Atualmente, 13 instituições
representativas mantêm convênio com o INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social) para serem beneficiadas.
A
chamada mensalidade sindical, por meio do desconto compulsório,
é prevista em lei (8.213, de julho de 1991). Mas, só
pode ser feita com autorização do segurado e desde
que a entidade que recebe o dinheiro seja reconhecida legalmente.
Ocorre que, em muitos casos, tudo não passa de fraude descarada
contra quem dedicou uma vida de trabalho para rodar as engrenagens
econômicas da Nação.
Os
descontos compulsórios são realizados a partir de
listas encaminhadas à Previdência pelas entidades
conveniadas. Se você é aposentado e nunca procurou
saber o que é descontado do seu contracheque, é
uma boa hora para mudar sua conduta. Não bastasse o valor
de miséria da maciça maioria das aposentadorias,
os segurados ainda correm o risco de virarem alvos de chupins.
No
bolo das que se beneficiam com o sacrifício de aposentados
injustiçados, estão tanto entidades que dizem ter
havido erro administrativo na indicação de nomes
quanto aquelas que são ilegais e cometem fraude, de caso
pensado. O INSS sabe que existem irregularidades. Diz que faz
fiscalizações periódicas nas instituições
conveniadas. Se não houver autorização para
retenção da mensalidade sindical, os valores devem
ser devolvidos ao segurado.
A
parte triste é que isso não ocorre automaticamente.
Se você é aposentado e está sendo vítima
dos descontos indevidos, terá de ir a um posto do INSS
para saber quem está papando seu dinheirinho e, então,
à entidade classista detentora das contribuições
que você nunca autorizou. Ou que concordou, mas deseja parar
de pagar.
Um
projeto de lei do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) visa
punir entidades que descontarem a mensalidade sem autorização
do aposentado. A penalidade é multa de 50% sobre o valor
irregular arrecadado e restituição do total retido
acrescido de multa de 2%, juros de 1% e correção
por um índice de inflação, além da
suspensão, por prazo indeterminado, do repasse das mensalidades
a favor da infratora até o pagamento das multas e a restituição
dos valores. Aprovada no Senado, a proposta está na Câmara.
Na
minha opinião, está tudo errado desde o princípio.
Discordo do desconto automático das aposentadorias, em
favor de entidades classistas. A instituição interessada
que procure o segurado e o convença a fazer contribuições
mensais em troca de melhor representatividade e serviços
jurídicos. Assim, se aceitar, ele pagaria boletos bancários.
Fica fácil empurrar-lhe goela abaixo o valor da mensalidade,
sendo que muitos nem sabem que estão pagando. É
preciso parar as fraudes contra aposentados.
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