Junji
Abe*
Não
fosse a demora do governo em neutralizar distorções
na hedionda legislação dos caminhoneiros (12.619,
de 30 de abril de 2012), finalmente revogada e substituída
nesta segunda-feira (02/03/15) pelo texto aprovado na Câmara
dos Deputados, talvez o Brasil escapasse do apagão do abastecimento.
Longe de ser uma surpresa, o caos que impera no setor já
se havia anunciado no segundo semestre de 2012, quando a categoria
deflagrou uma greve de sete dias contra os absurdos da lei colocada
em vigor, sem qualquer discussão com os envolvidos no processo.
Foi
assim, ignorando a classe produtiva, os profissionais do setor
e até os especialistas em abastecimento, que o governo
cozinhou os justos reclamos dos caminhoneiros. Interferiu de maneira
brutal para tentar mudar e retardar o texto em discussão
na Câmara dos Deputados. Não conseguiu e teve de
sancioná-lo às pressas neste início de ano,
na expectativa de evitar o desabastecimento generalizado. Sei
bem disso porque, como deputado federal, na época, fui
sub-relator na comissão especial que analisou a matéria.
Além
de buscar encruar os avanços do texto que estabelece regras
para a profissão de motorista, o governo iniciou o ano
desferindo um duro golpe sobre a categoria: aumentou o preço
do diesel, ao elevar as alíquotas do PIS (Programa de Integração
Social), da Cofins (Contribuição para Financiamento
da Seguridade Social) e da Cide (Contribuição de
Intervenção no Domínio Econômico) sobre
os combustíveis.
Evidente
que as quedas nos valores do frete vêm de tempos. No entanto,
o resultado financeiro para os profissionais do setor não
seria tão negativo, caso a legislação recém-sancionada
tivesse saído do papel com a devida celeridade. Cabe observar
que cerca de 80% dos mais de 1,2 milhão de caminhoneiros
responsáveis por abastecer o País são autônomos.
Ou seja, míni, pequenos e médios empreendedores
do ramo de transporte de carga que foram, sucessivamente, golpeados
com descaso governamental.
A
malfada ex-lei dos caminhoneiros entrou em vigor com o endosso
simples de burocratas de gabinete que, sob o frescor do ar condicionado,
não levaram em conta as deficiências estruturais
nos percursos dos caminhões e nem o fato de a categoria
incluir transportadores autônomos. O empregado assalariado
deseja menos horas de trabalho, maior descanso e melhor remuneração
com menor esforço o que é direito legítimo
deles. O autônomo, ao contrário, quer trabalhar mais,
comer e dormir menos para poder crescer e melhorar de vida. Em
resumo: tentou-se pasteurizar situações radicalmente
diferentes.
O
tempo insano consumido entre a vigência de uma lei esdrúxula
que também ignorava os produtos perecíveis
e sua substituição pelo texto amplamente
debatido com o setor só agravou a situação
de penúria da categoria. Tanto é importante a prática
de uma legislação coerente que a sanção
presidencial das novas regras, sem vetos, foi um dos itens do
acordo com os caminhoneiros para retomarem as atividades.
Para
dar uma ideia da importância da nova Lei dos Caminhoneiros,
vale destacar alguns pontos: isenção de pagamento
de pedágio para cada eixo suspenso de caminhões
vazios; perdão das multas por excesso de peso expedidas
nos últimos dois anos; ampliação de pontos
de parada para descanso e repouso; aumento da tolerância
máxima na pesagem dos veículos; e que o caminhoneiro
não seja responsável por prejuízos patrimoniais
se uma ação for de terceiros.
Por
tantos e tantos fatos, repito o que tenho dito sobre as leis.
Cada uma delas precisa ser fruto de um grande debate com os setores
envolvidos. No caso da nova Lei dos Caminhoneiros, participei
diretamente dos trabalhos e asseguro que ela reflete com legitimidade
a voz da categoria, porque resguarda a atividade e viabiliza o
abastecimento sem encarecer os produtos aos consumidores.
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