Utilização
de animais treinados em terapia com pacientes humanos é um
avanço no País
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(Reportagem:
Suzana Sakai| Fotos: Divulgação e Arquivo Pessoal)
O choro da
criança é substituído por um sorriso. O idoso internado,
apesar de sofrer de Mal de Alzheimer, consegue lembrar de uma divertida
visita que recebeu há um mês. Essas são apenas algumas
das gratificações propiciadas pelo Doutor Cão, um
projeto que transforma o melhor amigo do homem em uma espécie de
coterapeuta.
Trata-se de
uma ação voluntária, na qual os cachorros são
treinados para servir como ponte de comunicação entre o
terapeuta e o paciente. Os animais transmitem aos enfermos valores positivos,
como amor incondicional, confiança e companheirismo. A Terapia
com Animais não substitui qualquer modalidade de tratamento, mas
funciona como um adjuvante, por melhorar o estado de ânimo e a autoestima,
incentivar a atividade física, diminuir a sensação
de dor e o estresse, entre outros benefícios, explica a médica
cirurgiã e diretora do projeto, Sunao Nishio.
História
A Terapia
Assistida por Animais é praticada em países, como o Japão
e os Estados Unidos, mas ainda pouco difundida no Brasil.
O Doutor Cão
iniciou as suas atividades apenas em 2005, com uma palestra no Hospital
Nipo-Brasileiro em São Paulo. No ano seguinte, o projeto deu início
às suas atividades práticas. Em janeiro de 2006, iniciamos
a nossa primeira atividade regular, com visitas mensais numa casa de reabilitação
psicossocial em Guarulhos e, em poucos meses, já notamos o efeito
benéfico do contato dos cães com os internos, relembra
Sunao.
Em 2007, os
doutores-cães começaram a atuar no Complexo
Hospitalar do Mandaqui, com visitas no setor de Pediatria, incluindo o
Pronto-Socorro, a Unidade de Internação e a Unidade de Terapia
Intensiva. Acredito que o crescimento e o reconhecimento do trabalho
do Doutor Cão podem ser considerados conquistas não só
do nosso projeto, como também da Terapia e Atividades Assistidas
por Animais em nosso país, afirma a diretora.
Trabalho
e voluntariado
Cachorro
Tommy visita pacientes em asilo
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Sunao
Nishio, diretora do Doutor Cão, visita, com a cadela Linda,
o Complexo Hospitalar do Mandaqui
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O projeto já
estava caminhando quando a voluntária Elza Teshima o conheceu,
por intermédio de algumas amigas. O projeto chamou a minha
atenção, porque o personagem mais importante era o cão
e nós, os humanos, apenas coadjuvantes, conta.
A partir daí
Elza que não tem um Doutor Cão
passou a conhecer a rotina do projeto e a trabalhar avidamente em prol
dele. Como voluntários, temos de participar das reuniões
e das aulas de adestramento dos cães, além das visitas às
instituições, diz Elza.
As atividades
acontecem aos sábados e em um domingo por mês, para não
atrapalhar os compromissos pessoais dos voluntários. Como
todo trabalho voluntário, trata-se de um compromisso sério,
ressalta Sunao.
Em troca de
tanto trabalho, os voluntários recebem sorrisos e uma ampla experiência
de vida. Do ponto de vista pessoal, considero que a principal conquista
do projeto é o sorriso de cada pessoa que recebe a visita do Doutor
Cão. A melhora do estado de saúde física e psicológica
de cada pessoa institucionalizada, isolada, doente, desanimada, com dor,
é a maior conquista do nosso trabalho, relata a diretora.
Elza também
coleciona boas lembranças do projeto. Uma delas refere-se
a uma criança com problema neurológico na UTI do Hospital
Mandaqui que tinha medo de cães, só brincava com um de pelúcia
e, agora, pede que coloquem o cão na sua cama para brincar,
lembra.
Doutores-cães
Os cães
que participam do projeto são de raças variadas e devem
ter como requisito básico um temperamento equilibrado. Do
ponto de vista comportamental, o cão deve ser avaliado pela nossa
coordenadora de adestramento, que também é especialista
em comportamento animal. Não existe uma raça ideal, mas
o cão-terapeuta deve ter temperamento equilibrado e não
ser medroso, pois animais medrosos podem reagir agressivamente,
explica Sunao.
Os animais
que participam do projeto também devem estar em perfeitas condições
físicas, vacinados e vermifugados.
Avaliações
clínicas e adestramento fazem parte da rotina dos doutores-cães.
Para visitar os pacientes, eles se preparam com banhos, escovação
dos dentes e tosa quando necessário. Eles também realizam
assepsia nas patas e na boca antes de entrar em contato com os enfermos.
Durante as
visitas, os cães interagem com crianças e idosos em passeios,
realização de comandos de obediência (sentar, dar
a pata, etc.) ou simplesmente pelo contato, quando se deixam ser massageados.
Atuação
Atualmente,
os doutores-cães prestam atendimento no Centro de Reabilitação
Psicossocial de Guarulhos Yassuragui Home; no Asilo Caminho da
Vida, localizado na Vila Matilde, em São Paulo; no Complexo Hospitalar
do Mandaqui Gerência de Pediatria (OS, Internação
e UTI) e na Cliren Clínica de Reabilitação
Neurológica, localizada em Interlagos, também na capital
paulista. Além disso, o projeto realiza atividades extras, como
palestras educativas e participação em festas de creches
e centros de convivência.
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